Saúde

Roteiro para melhorar a eficiência dos cuidados oncológicos na UE emergente, novo estudo aponta o caminho

Um novo ‘Guia de Ação para Cuidados Eficientes’ contra o câncer foi lançado recentemente pela All.Can em parceria com a Universidade de Amsterdã. Oferece um roteiro para implementar métricas-chave destinadas a monitorizar e melhorar os cuidados oncológicos nos sistemas de saúde.

O guia estabelece o objetivo de prestar cuidados oncológicos mais rápidos, mais coordenados e equitativos em toda a Europa.

As ineficiências nos cuidados de saúde são generalizadas, estimando-se que 20% das despesas com cuidados de saúde nos países da OCDE sejam desperdiçadas em intervenções ineficazes. Esta questão é crítica no tratamento do cancro, onde os atrasos podem ter um impacto significativo nas taxas de sobrevivência.

As falhas no percurso de cuidados – tais como o reconhecimento tardio dos sintomas, a coordenação insuficiente entre os prestadores de cuidados primários e secundários e a baixa participação em programas de rastreio – agravam o problema.

O Relatório sobre a Luta contra as Desigualdades da OCDE destaca disparidades acentuadas em toda a Europa, com países como a Suécia e a Espanha a conseguirem diagnósticos mais rápidos e melhores resultados, enquanto outros, como a Roménia e a Polónia, enfrentam atrasos sistémicos.

Estudo de métricas de eficiência All.Can

Em resposta a estes desafios, a All.Can, em parceria com a Universidade de Southampton, identificou oito métricas principais para melhorar a eficiência do tratamento do cancro. Essas métricas concentram-se em três áreas principais: oportunidade do atendimento, coordenação do atendimento e centralização no paciente.

O estudo, baseado numa revisão abrangente da literatura académica, nos dados do registo nacional de cancro e em entrevistas com especialistas, enfatiza o impacto do cuidado oportuno nos resultados de saúde.

A identificação destas métricas é crucial, mas a sua implementação eficaz nos sistemas de saúde é o próximo desafio.

Para resolver esta questão, a All.Can, em parceria com a Universidade de Amesterdão, desenvolveu o Guia de Ação para um Tratamento Eficiente do Cancro.

Este guia fornece um roteiro estruturado para as partes interessadas – a nível clínico, organizacional ou político – sobre como implementar estas métricas de eficiência no tratamento do cancro nos seus contextos específicos.

Ana Sofia Carvalho, MD MScPH, doutoranda na Amsterdam UMC e investigadora principal do All.Can Action Guide destaca os desafios na implementação de métricas de eficiência no tratamento do cancro.

“Os desafios mais significativos que identificámos, a partir de entrevistas com especialistas de 18 países, estavam associados a questões regulamentares, como a falta de uma abordagem nacional aos dados sobre o cancro e de interoperabilidade entre bases de dados para monitorizar a oportunidade dos cuidados oncológicos, e a ausência de enquadramentos legais para o papel dos enfermeiros especialistas em oncologia e navegadores de cuidados”, explicou ela.

Estes desafios são particularmente relevantes para as métricas relacionadas com a oportunidade e a coordenação dos cuidados.

Uma questão significativa para as métricas relacionadas com a centralização no paciente é a ausência de uma abordagem nacional para a recolha sistemática de dados notificados pelos pacientes.

“A vontade política e o financiamento são fundamentais para fazer avançar estes esforços, por exemplo, garantindo capacidade suficiente para iniciar, monitorizar e ampliar projectos-piloto”, disse Carvalho, acrescentando: “Se não atribuirmos financiamento ou recursos humanos, então não é realmente um prioridade.”

Exemplos do Reino Unido e da Suíça, apresentados no Guia de Acção, mostram que as iniciativas têm sucesso quando têm objectivos claros e asseguram a adaptação cultural e sistemas de avaliação comparativa, mas também revelam desafios na manutenção da dinâmica sem um compromisso político e financeiro sustentado.

Capacitando as partes interessadas no câncer

O Guia de Acção fornece um roteiro para identificar e superar estas barreiras. “Algumas das principais recomendações do guia são institucionalizar percursos padronizados de tratamento do cancro por tipo de cancro, incluindo a regulamentação e monitorização de questões que afetam a oportunidade do tratamento”, explicou Carvalho.

A Austrália fornece um exemplo de desenvolvimento e implementação de “percursos de cuidados óptimos”. Esses caminhos descrevem etapas baseadas em evidências para prevenção, diagnóstico, tratamento e sobrevivência, adaptadas a tipos específicos de câncer, com cronogramas e parâmetros de referência definidos.

“Os percursos padronizados de tratamento do cancro ajudam os prestadores a coordenar os cuidados e a garantir que os pacientes em todo o país recebem cuidados iguais. Eles também podem apoiar os profissionais de saúde no monitoramento dos resultados dos pacientes”, acrescentou Carvalho. Esta abordagem promove consistência, equidade e melhores resultados em todo o sistema de saúde.

Outra recomendação é estabelecer um quadro jurídico para o papel dos enfermeiros especialistas em oncologia e dos navegadores dos cuidados oncológicos no percurso dos cuidados oncológicos, a fim de melhorar a coordenação dos cuidados.

“Métricas que monitorizam o acesso dos pacientes a enfermeiros especialistas clínicos podem garantir cuidados mais centrados nas pessoas e coordenados. Estes são componentes fundamentais para garantir um cuidado eficaz e equitativo”, destacou Carvalho.

Contextualizando o roteiro

Carvalho explicou que o roteiro deve ser contextualizado de acordo com as prioridades de cada país ou região.

“Precisamos que os decisores políticos priorizem a oportunidade, a coordenação dos cuidados e a centralização no paciente, e o Guia de Acção pode ajudar a definir prioridades em cada contexto. Mas você também pode realizar iniciativas muito relevantes na sua região ou organização”, observou ela.

O guia também pode servir como uma ferramenta de defesa de direitos para todas as partes interessadas no ecossistema do cancro. “Por exemplo, um representante dos pacientes pode utilizar este documento em reuniões com legisladores ou representantes da administração hospitalar.”

Com este roteiro para implementação, vários recursos adicionais e recomendações práticas, os utilizadores do guia serão capacitados para promover mudanças significativas no sentido de melhores cuidados oncológicos nos seus contextos locais, regionais ou nacionais.

(Editado por Brian Maguire | Laboratório de Advocacia da Diário da Feira)