Saúde

Rede de futebol da UE identifica comportamento abusivo contra atletas femininas

A violência contra as mulheres continua a marcar a nossa sociedade, mas a União Europeia continua a combater o fenómeno em todas as suas formas. Projeto PLACAR DE GOLS oferece uma oportunidade de ajudar por meio do futebol, o esporte mais amado do mundo.

Embora o futebol não esteja isento de violência de gênero e desigualdade, mesmo no nível de times de base, ele oferece o campo para criar e implementar uma metodologia de treinamento para treinadores para ajudá-los a identificar comportamentos abusivos, coercitivos e desrespeitosos contra atletas femininas.

O projeto considera que os coaches desempenham um papel importante para os jovens em suas vidas. Eles também podem desempenhar um papel essencial na prevenção, intervenção e resposta a situações de violência doméstica.

A União das Associações Europeias de Futebol (UEFA) é uma das apoiadoras deste projeto, que é implementado por três federações de futebol (Malta, Portugal, Romênia), com o apoio das associações de direitos das mulheres de cada país (Malta Women’s Lobby, Apoio à Vítima, Centrul FILIA), UNIMORE e Euractiv como parceiro de comunicação.

Números chocantes

As mulheres na UE continuam a temer pela sua segurança. De acordo com um relatório da Agência Europeia dos Direitos Fundamentais (FRA), 83 por cento das jovens mulheres com idades entre 16 e 29 anos na UE evitam certas situações ou lugares, com medo de serem agredidas física ou sexualmente.

Pelo menos 6.593 mulheres foram mortas por um familiar ou parceiro do sexo masculino entre 2010 e 2021, de acordo com dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e do relatório da ONU Mulheres sobre a questão do feminicídio.

Mas, em contraste com a alta porcentagem de crimes contra mulheres, apenas algumas delas se sentem seguras para relatar incidentes e buscar ajuda. O relatório da FRA indica que apenas 22 por cento das mulheres que sofrem violência de parceiro íntimo relatam à polícia.

As chances de denunciar incidentes violentos quando o agressor é um familiar ou parente são ainda menores, o que torna a situação muito pior do que os números existentes sobre o assunto.

Custos elevados

Um estudo do Instituto Europeu para a Igualdade de Gênero (EIGE) em 2021 estima que o custo da violência de gênero na UE chega a € 366 bilhões por ano.

A violência contra as mulheres representa 79% (€ 289 bilhões) desse custo, enquanto a violência entre parceiros íntimos representa quase metade (€ 175 bilhões) do custo.

O estudo indica que o maior custo está relacionado ao impacto físico e emocional (56%), seguido por serviços de justiça criminal (21%) e perda de produção econômica (14%). Outros custos incluem serviços de justiça civil, auxílio-moradia e proteção à criança.

Alemanha, Espanha, França, Itália, Holanda, Polônia e Romênia são alguns dos Estados-Membros com os maiores custos de violência de gênero na UE, diretamente relacionados ao tamanho de sua população.

De acordo com dados do Parlamento Europeu, da Comissão Europeia e do Barômetro da UE, 84% dos cidadãos da UE acreditam que a violência contra as mulheres é inaceitável e deve ser sempre punível por lei, enquanto 98% condenam a violência doméstica contra mulheres e homens.

Participação significativa

O projeto GOALSCORE impacta profundamente a Romênia, um país onde os casos relatados de violência contra mulheres aumentaram nos últimos anos, de acordo com dados publicados pela organização não governamental Centrul Filia.

Pelo menos 90.000 respostas policiais à violência doméstica foram registradas no ano passado, embora o problema continue sendo pouco relatado, especialmente entre vítimas mais propensas a enfrentar atitudes discriminatórias.

Dados do Eurostat de 2021 sobre Malta mostram que 26 por cento das mulheres que já estiveram em um relacionamento sofreram violência por parte de um parceiro íntimo durante a vida adulta. Quinze por cento sofreram violência física e 25 por cento sofreram violência psicológica.

Mais de um quarto das mulheres em Malta que já trabalharam sofreram assédio sexual no trabalho. Até 5% delas relataram ter sofrido isso nos últimos 12 meses, enquanto 11% sofreram nos últimos cinco anos.

Dados para Portugal são mais difíceis de encontrar. Um relatório datado de 2017 indica que 24 por cento das mulheres lá sofreram violência, o que é 9 por cento menor do que na UE em geral.

O país não tem lei sobre violência contra mulheres, mas criminaliza inúmeras formas de violência. O crime de violência doméstica como tal foi introduzido no Código Penal Português em 2007, e incluía crimes de estupro conjugal e em encontros.

Embora o problema seja difícil de mensurar e relatar completamente, os três países envolvidos no projeto têm uma grande chance de criar uma rede de apoio para compartilhar experiências e melhorar práticas.