Conhecido por seus seguidores como Hoca efendi (pregador mestre), Gülen construiu uma base sólida de apoiadores, formando sua seita e quadro central, chamado de Hizmet Hareketi (Movimento de Serviço). Na década de 1990, os membros treinados nos faróis começaram a encontrar cargos em instituições estatais.
Embora sob o olhar vigilante dos militares turcos, Gülen tentou manter relações estreitas com os políticos e com o mundo empresarial. Após o colapso da União Soviética, ele estabeleceu escolas nos países turcos, nos Balcãs e na África. Embora as suas escolas privadas produzissem milhares de formandos todos os anos, o movimento também conseguiu ganhar o controlo de empresas em vários sectores, incluindo alimentação, saúde, educação e comunicação social, graças às contribuições anuais dos seus seguidores.
No final da década, porém, as autoridades turcas prepararam um relatório expondo a influência do movimento dentro do aparelho estatal, levando a uma investigação por parte de um procurador que acusou Gülen “de tentar criar um Estado teocrático”.
Assim, em 21 de março de 1999, Gülen deixou a Turquia e foi para os EUA – para nunca mais voltar.
Não muito tempo depois, a ascensão de Erdoğan ao poder em 2003 apresentou ao movimento de Gülen uma oportunidade de tirar das sombras a sua influência política. O novo primeiro-ministro não tinha influência no aparelho de Estado, e Gülen precisava de Erdoğan para ajudar a espalhar o domínio do movimento – ou, como o próprio Gülen foi citado num dos seus sermões daquela altura, para “escorrer pelas artérias do Estado”.
Mas na década de 2010, depois de os sectores seculares das forças armadas e do poder judicial turco terem sido expurgados após julgamentos espectaculares como os de Ergenekon e Sledgehammer – um caso paralelo que visava os militares – as tensões entre os campos de Gülen e Erdoğan aproximaram-se do ponto de ruptura.