Saúde

Chéquia aprova novo plano cardiovascular, especialistas pedem implementação rápida

O governo checo aprovou um novo Plano Cardiovascular Nacional concebido para reduzir a incidência da principal causa de morte no país – doenças cardíacas e vasculares – através de uma melhor prevenção e cuidados.

O Plano Cardiovascular Nacional Checo, aprovado pelo governo em 11 de dezembro, estabelece objetivos para 2023–2033. O seu objectivo é modernizar a prevenção, melhorar os percursos de cuidados e abordar de forma mais eficaz os factores de risco.

“Os cuidados de cardiologia aguda checos estão entre os líderes mundiais absolutos, e este plano irá levá-los ainda mais longe”, disse o Ministro da Saúde checo, Vlastimil Válek (TOP 09, PPE), após a aprovação do plano pelo governo.

“No entanto, o problema checo é o grande número de pacientes, o que está relacionado com a saúde precária da população e a prevenção. É por isso que o plano cardiovascular dá ênfase absoluta às medidas preventivas, aos programas de prevenção, etc.”, acrescentou o ministro.

A Chéquia é o terceiro Estado-Membro da UE, depois da Espanha e da Polónia, a adoptar recentemente um documento estratégico tão específico.

Prevenção primária

Um dos pilares centrais do plano é o reforço da prevenção primária, que visa a população em geral. Na prática, isto significa intensificar os esforços de rastreio, modernizar os exames preventivos para detectar doenças cardiovasculares ou factores de risco e melhorar a sensibilização do público para estilos de vida saudáveis.

“Temos exames preventivos historicamente bem estabelecidos, mas algumas medidas estão desatualizadas”, disse à Diário da Feira Kristýna Čillíková, da Aliança Checa para Doenças Cardiovasculares (ČAKO), uma organização líder de pacientes.

“Os médicos de clínica geral já criaram um novo sistema de exames preventivos, que deverá ser implementado no próximo ano e irá melhorar significativamente a eficiência”, explicou Čillíková.

O novo sistema de exames preventivos também deverá incluir alguns exames que até o momento não foram realizados rotineiramente, como os níveis de lipoproteína(a). Os testes de função renal também devem ser melhorados para detectar distúrbios renais mais cedo.

Um dos principais focos da ČAKO para o próximo ano é o lançamento de um programa de rastreio neonatal para hipercolesterolemia familiar, uma doença genética que afecta cerca de um em cada 250 europeus e pode levar a ataques cardíacos prematuros se não for detectada.

De acordo com Čillíková, a Chéquia está relativamente avançada no planeamento de testes em recém-nascidos. “Poderá ser lançado já no próximo ano no âmbito do Plano Cardiovascular Nacional”, disse ela. Ao identificar mais cedo os pacientes de alto risco e direcioná-los para a prevenção relevante, os especialistas esperam reduzir o número de pessoas que necessitam de intervenções agudas mais tarde na vida.

Os esforços preventivos também dependerão de uma educação sanitária mais ampla, especialmente entre as crianças, para incentivar uma alimentação saudável, a actividade física regular e exames de rotina.

Os defensores do plano sublinham que tais medidas podem reduzir drasticamente a incidência de doenças cardiovasculares.

Prevenção secundária

Embora o sistema de saúde checo tenha consistentemente bons resultados em cardiologia aguda, a prevenção secundária continua a ser um elo fraco. Essa forma de prevenção atende indivíduos que já apresentam fatores de risco ou que sofreram algum incidente cardiovascular, como um infarto.

“A saúde cardiovascular da população checa encontra-se num estado bastante deplorável e é a principal causa de mortalidade”, disse Čillíková. “O problema é a capacidade da nossa rede de cardiologia ambulatorial – há poucos cardiologistas e os tempos de espera são muito longos, o que é inaceitável”, insistiu.

Čillíková vê o plano cardiovascular como um roteiro para colmatar estas lacunas, especialmente em regiões com recursos médicos limitados. O plano apela a uma cooperação mais estreita entre médicos de clínica geral e cardiologistas e recomenda a expansão das opções de prescrição para os médicos de clínica geral lidarem com casos mais ligeiros.

“Os pacientes complexos devem ser tratados por especialistas que possam fornecer toda a gama de cuidados sem demora”, explicou ela. “Os cardiologistas deveriam ser recompensados ​​por optarem por lidar com casos mais complexos em vez de deixá-los nas mãos dos médicos de família”, acrescentou Čillíková.

Para tornar isto viável, o plano prevê uma estrutura de seguro renovada que reconhece o maior custo – e os riscos mais elevados – do tratamento de pacientes cardiovasculares de alto risco ou pós-evento.

Olhando para frente

A plena concretização do Plano Nacional Cardiovascular depende da cooperação multiministerial e da criação de um grupo de trabalho dedicado à sua implementação.

“Todos sentem que o sistema de saúde checo está a começar a perder força e muitas coisas não estão a funcionar como deveriam”, observou Čillíková.

No entanto, Čillíková adverte que a vontade política e um orçamento adequado serão fundamentais. Ela apontou o anterior Plano Nacional de Oncologia do país – que, apesar de ter um design sólido, não foi totalmente concretizado na prática – como um alerta. “Queremos evitar o destino do Plano Oncológico anterior”, disse Čillíková.

Esforços europeus

Em 3 de dezembro, os ministros da saúde da UE adotaram por unanimidade as Conclusões do Conselho sobre a melhoria da saúde cardiovascular em todo o bloco, assinalando um forte compromisso político para enfrentar o que muitos consideram a maior ameaça à saúde da Europa.

Durante a reunião, o Comissário da Saúde, Olivér Várhelyi, anunciou que a Comissão Europeia irá desenvolver um novo Plano Europeu de Saúde Cardiovascular – semelhante ao Plano Europeu de Luta contra o Cancro – para garantir o financiamento a nível da UE, promover o investimento na investigação e expandir os registos para melhorar os cuidados aos pacientes. O Ministério da Saúde checo observou que o próximo plano de ação da UE está bem alinhado com o plano checo.

Čillíková também espera que o próximo Plano Cardiovascular Europeu ofereça orientações mais amplas e possivelmente financiamento partilhado para prioridades-chave, como o rastreio generalizado e a educação.