Depois de ter enfrentado meses de protestos de profissionais de saúde mal pagos, o governo da Bulgária está a tomar medidas para aumentar os salários dos jovens médicos e enfermeiros, mesmo num momento em que as finanças públicas estão sob pressão.
O governo vai atribuir 260 milhões de euros a hospitais com dificuldades financeiras, que deverão cumprir os novos salários mínimos de 1.550 euros para enfermeiros e 1.860 euros para médicos (sem especialização) para 2026.
O atual acordo coletivo estabeleceu salários iniciais mínimos em 1.000 euros para médicos, 750 euros para enfermeiros e 460 euros para auxiliares hospitalares. Ainda assim, alguns hospitais não conseguiram atingir estes valores de referência, alegando falta de receitas.
Baixo número de enfermeiros
O sistema de saúde búlgaro enfrenta um grave problema estrutural – a escassez de enfermeiros. Tem mais médicos do que enfermeiros, o que exerce uma enorme pressão sobre os seus hospitais.
A escassez de enfermeiros é particularmente grave em hospitais mais pequenos fora da capital, Sófia, onde um único enfermeiro está frequentemente de serviço para cuidar de dezenas de pacientes. A crise de pessoal decorre de salários extremamente baixos, que também afectam a qualidade dos cuidados de saúde nas cidades mais pequenas.
Os novos salários mínimos serão obrigatórios para todas as instituições de saúde do país. Estas normas salariais também se aplicarão a farmacêuticos hospitalares, químicos, físicos, biólogos e psicólogos. Os limiares mínimos para profissionais de saúde aplicar-se-ão não só aos enfermeiros, mas também às parteiras, técnicos de laboratório e fisioterapeutas.
A pressão social aumenta o orçamento
A injeção financeira no sistema de saúde visa acabar com os protestos de jovens médicos e profissionais de saúde, que começaram na primavera deste ano. Com os aumentos salariais, o orçamento da saúde da Bulgária ultrapassará um recorde de 5,5 mil milhões de euros em 2026 – quase 5% do PIB.
Espera-se que os novos salários mínimos para médicos e enfermeiros búlgaros retardem a saída de profissionais médicos para a Europa Ocidental. Ainda assim, é pouco provável que a parem completamente, pois mesmo com o aumento, os salários permanecerão significativamente mais baixos do que nas zonas mais ricas da UE.
Antes da decisão de aumentar os salários no sistema de saúde público financiado por impostos, o governo tinha escalado as tensões com jovens médicos e estudantes de medicina até ao ponto de ruptura.
Em Setembro, o ministro da Saúde, Silvi Kirilov, declarou que nada poderia fazer para aumentar os salários, afirmando que o sistema de saúde do país “não depende de jovens médicos”. As suas observações desencadearam dois protestos ruidosos em Sófia, nos dias 7 e 15 de Outubro. Os manifestantes bloquearam um cruzamento central na capital, prometendo não parar de manifestar-se até que fosse tomada uma decisão para aumentar os salários dos profissionais de saúde com salários mais baixos.
Em Junho, Toshko Yordanov, deputado do partido populista “Existe um Povo assim” – que também nomeou o ministro da Saúde – afirmou que a Bulgária preferia “importar médicos de outros países que trabalhariam alegremente por 500 dólares, tanto quanto o Estado pudesse pagar”.
Mais tarde, Boyko Borissov, líder do GERB (PPE), o principal partido da coligação no poder, comentou que haveria dinheiro para os jovens médicos “quando os búlgaros parassem de passar as férias na Grécia e começassem a gastar o seu dinheiro na Bulgária”.
A maior parte do orçamento da saúde do próximo ano, 2,3 mil milhões de euros, será atribuída aos hospitais. O governo prevê um número recorde de hospitalizações: 2,4 milhões por ano, 300 mil a mais que no ano anterior, apesar de uma população cada vez menor de 6,4 milhões.
O Estado também gastará um valor recorde de 1,3 mil milhões de euros em medicamentos, mais 150 milhões de euros do que em 2025.
(VA, BM)




