A UE comprometeu-se na quarta-feira a reprimir o discurso de ódio e a terapia de conversão como parte da nova estratégia LGBTQ+ da Comissão, mas grupos da sociedade civil dizem que falta força.
A estratégia de cinco anos, revelada pelo chefe da igualdade, Hadja Lahbib, aterra no meio de um cenário político europeu transformado, com as forças conservadoras a ganhar terreno tanto em Bruxelas como nos países da UE.
“Embora haja uma reação clara, a Comissão e a União estão empenhadas em manter este farol de esperança – uma união de igualdade”, disse Lahbib aos jornalistas em Estrasburgo, apresentando a nova estratégia numa sala de imprensa bastante vazia.
A anterior estratégia LGBTQ+ em 2020 incluía uma proposta para adicionar o discurso de ódio à lista de crimes da UE, mas cinco anos depois, a iniciativa continua bloqueada pelos Estados-Membros.
Na nova estratégia, a Comissão propõe planos para contornar o bloqueio do Conselho, introduzindo uma lei da UE de menor âmbito para harmonizar a definição de crimes de ódio cometidos online em todo o bloco.
Ao abrigo da emblemática Lei dos Serviços Digitais (DSA) da UE, as principais plataformas de redes sociais, incluindo Meta, X e TikTok, assinaram um Código de Conduta para coibir o discurso ilegal de ódio online. O código exige que as plataformas forneçam ferramentas claras para os usuários sinalizarem conteúdo que acreditam ser discurso de ódio.
No entanto, o DSA não define o que constitui discurso de ódio, deixando isso a critério dos próprios termos e condições de cada plataforma. Ainda não está claro como o código DSA irá interagir com a nova estratégia LGTBQ+.
Um milhão de assinaturas a favor da proibição
Sobre o tema “terapia de conversão”, Lahbib anunciou que a Comissão trabalhará com os países da UE para acabar com a prática “prejudicial” que visa as pessoas LGBTQ+, mas não conseguiu prometer uma proibição total.
Ela afirmou que “as práticas de conversão não são terapia” e causam danos mentais e físicos, afetando 1 em cada 4 pessoas LGBTQ+ em todo o bloco. Ainda assim, sublinhou que a Comissão deve trabalhar com os Estados-membros “no pleno respeito pelas suas competências”.
Grupos da sociedade civil e iniciativas lideradas por cidadãos aumentaram a pressão sobre a UE para uma proibição total. Terapia de conversão ainda é praticado – e não explicitamente proibido – em vários estados membros, incluindo a Polónia e a Hungria.
Um pouco tarde demais
Para a rede da sociedade civil ILGA-Europa, a estratégia como um todo “não consegue responder à urgência do momento” e fica aquém da ambição da primeira Estratégia para a Igualdade da UE.
“Esta abordagem cautelosa não protegerá as pessoas LGBTQ+ que enfrentam crescente discriminação, violência e hostilidade patrocinada pelo Estado em toda a UE”, afirmou Katrin Hugendubel, diretora de defesa da ILGA-Europa.
“A Comissão deve usar todas as ferramentas de que dispõe – jurídicas, políticas e financeiras – para defender os direitos LGBTQ+”, acrescentou.
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Questionado sobre a esperada resistência de certos Estados-membros, nomeadamente a Hungria, Lahbib apontou para Budapeste.
“Os cidadãos também devem compreender que a UE é uma união de valores”, disse Lahbib, referindo-se aos 18 mil milhões de fundos da UE que Bruxelas reteve de Budapeste.
A Hungria já está sujeita a vários processos de infração da Comissão por ter violado as regras comuns da UE, nomeadamente no que diz respeito ao tratamento da comunidade LGBTQ+ do país. No início deste ano, a Hungria adoptou uma lei que proíbe as marchas do Orgulho LGBT e os Comissários foram instruídos a não participar na Marcha do Orgulho de Budapeste.
Respondendo às críticas da Hungria, Lahbib reiterou que “nenhum país foi forçado a aderir à UE” e disse que a Comissão fornecerá financiamento adicional para apoiar ONG e organizações da sociedade civil que operam na Hungria.
(bm, mm)




