“Os cidadãos afegãos que cometem crimes noutros países são, obviamente, pessoalmente responsáveis pelas suas ações, mas também representam a nação afegã”, disse Qani. Ao chegar ao Afeganistão, acrescentou, os deportados são tratados pelo Ministério do Interior afegão “de acordo com a lei Sharia”.
Grupos de direitos humanos e as Nações Unidas criticaram duramente a Alemanha pelos planos de deportação. “Mandar pessoas de volta para um país onde correm risco de perseguição, tortura, tratamento ou punição cruel, desumano ou degradante ou outros danos irreparáveis, viola o princípio fundamental do direito internacional de ‘não repulsão’”, disse um porta-voz da ONU em Julho.
Mas alguns defensores dizem que existem perigos para os dissidentes afegãos de forma mais ampla, agora que os talibãs estabeleceram uma posição nos consulados afegãos da Alemanha.
“É muito perigoso”, disse Hamid Nangialay Kabiri, que serviu como chefe do consulado afegão em Bonn de 2019 até setembro deste ano, ao POLITICO. Kabiri, que se demitiu com todo o pessoal do consulado em protesto pela chegada de um oficial talibã, disse que o escritório é de especial interesse para o regime talibã porque os dados biométricos de cidadãos afegãos residentes em mais de 20 países são armazenados lá, bem como informações pessoais sobre pessoas evacuadas através de programas de reassentamento e humanitários na Europa, Canadá e Estados Unidos.
Ao aceder a estes dados, os talibãs podem encontrar informações sobre onde residem os opositores do regime, incluindo informações sobre as suas famílias que ainda estão no Afeganistão, segundo Kabiri.
Quando questionado sobre as preocupações sobre o acesso do Talibã a esses registos, o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão respondeu ao POLITICO com uma declaração por escrito. “O governo alemão tem interesse em garantir que as missões diplomáticas afegãs na Alemanha permaneçam operacionais e que os cidadãos afegãos na Alemanha recebam serviços consulares adequados, incluindo a emissão de documentos de viagem.”
Entretanto, os responsáveis talibãs estão a avançar com a tomada de missões diplomáticas na Alemanha. Em Berlim, as autoridades planeiam hastear em breve a bandeira branca e preta do Emirado Islâmico do Afeganistão, reinstaurada pelos talibãs quando chegaram ao poder há quatro anos.
