POLÍTICO: Então, na sua opinião, é um erro dar espaço no debate público a esse tipo de argumento?
Calendário: Não, sou liberal, acredito que todos os pontos de vista deveriam ser permitidos, mas devem ser contextualizados. Por exemplo, se eu apresentasse Sachs como jornalista, diria: “Um jornalista que ao longo do tempo assumiu posições próximas da Rússia e que há alguns meses participou no Fórum do Futuro 2050, organizado por Alexander Dugin, o ideólogo que acredita que o Ocidente está degenerado e que a Rússia deve restaurar os valores imperiais”. Os espectadores merecem saber disso.
Tal como quando alguém afirma que o Euromaidan (os protestos em grande escala de 2013-2014 na Ucrânia que exigem laços mais estreitos com a Europa e o fim da corrupção governamental) foi financiado pela CIA, há duas razões pelas quais isso é falso: primeiro, seria necessário explicar como milhões de pessoas poderiam ter sido pagas; e em segundo lugar, o próprio Sachs, em 2014, disse o contrário e condenou o imperialismo russo.
Existem coisas factuais que não podem ser toleradas. E em Itália, infelizmente, os canais de televisão e os jornais chegam ao ponto de dar tempo de antena até mesmo a (Vladimir) Solovyov, que apela abertamente a ataques nucleares na Europa como se isso fosse normal. Não é.
POLÍTICO: Acha que em certos círculos académicos ou mediáticos há mais ingenuidade ou mais cálculo político quando se promovem narrativas próximas da propaganda do Kremlin?
Calendário: É um cálculo político; chama a atenção do público. E acima de tudo, há um descuido em nunca deixar falar pessoas informadas. Acho que é hora de trazer clareza, porque as democracias são construídas com base em opiniões, mas não na ideia de que você pode dizer o que quiser sem que ninguém desafie a verdade disso. E isso, antes de mais nada, é trabalho dos jornalistas.




